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Cúpula das Américas 2022

Cúpula das Américas 2022

Conteúdo postado em 09/06/2022

Olá, sapientes!

 

Desde a primeira edição da Cúpula das Américas, quando os Estados Unidos tentaram endossar a criação da Área de Livre‑Comércio das Américas (ALCA), em 1994, passado pela declaração de Hugo Chávez sobre o fim definitivo das negociações desse plano no encontro de 2005 e pelo aperto de mãos histórico entre Barack Obama e Raúl Castro na Cúpula de 2015, no Panamá, todas as edições desse evento sempre foram recheadas de drama. E a desse ano não poderia ser diferente.

 

Após um ano de atraso por conta das precauções da pandemia, a IX Cúpula das Américas está finalmente ocorrendo em Los Angeles nesta semana, entre os dias 6 e 10 de Junho de 2022. Esse encontro é o primeiro em 25 anos que temos os Estados Unidos como país anfitrião; antes só houve a Cúpula inaugural, em Miami, em 1994. 

 

E, como sempre, essa será uma oportunidade para discutir desafios e oportunidades para o hemisfério. Paralelamente a isso, tradicionalmente também ocorrem encontros entre os CEOs de todos os países americanos para discutir inovações e negócios, além de eventos ligados a organizações estudantis e da sociedade civil para levantar o debate sobre as vulnerabilidades do continente.

 

No entanto, já está claro que a reunião será marcada pela exaustão da pandemia, tensões por questões migratórias e polarização política, sem falar na piora dos efeitos do aquecimento global. Por isso mesmo que a manutenção da Cúpula hemisférica em momentos críticos como o atual é tão importante. 

 

Mas, o drama não está só no cenário atual…

 

Ao assumir o evento, as autoridades norte-americanas tinham esperanças de reverter os entraves causados por Donald Trump às relações regionais e reafirmar a primazia dos EUA sobre a crescente influência da China na América Latina. O ex-presidente não havia nem participado da Cúpula passada. No entanto, a ocasião não saiu como o esperado.

 

Como anfitrião, os EUA têm o direito de escolher quem será convidado para o evento. Sendo assim, sob a justificativa de haver preocupações com os direitos humanos e a falta de democracia, a potência decidiu não convidar os representantes de Cuba, Nicarágua e até mesmo da Venezuela, dos quais os Estados Unidos vinha se aproximando ao desfazer as sanções contra petroleiras que operem no país. O resultado disso foi um desconforto geral nos países latino-americanos.

 

López Obrador, presidente mexicano, recusou o convite para participar da Cúpula, mas enviou seu ministro das Relações Exteriores, Marcelo Ebrard. Os presidentes da Bolívia e Honduras, Luis Arce e Xiomara Castro, seguiram o exemplo mexicano e também não compareceram ao evento, em protesto. Alejandro Giammattei, presidente da Guatemala, também anunciou a recusa ao convite - provavelmente como uma forma de “revidar” por não haver sido convidado para a Cúpula virtual sobre a democracia de Biden, em dezembro de 2021.

 

Sem falar que os mandatários da Argentina e Chile criticaram a postura dos EUA, mas, mesmo assim, confirmaram a presença no evento. O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, não compareceu por ter positivado para Covid-19. Já o Brasil só confirmou presença de última hora e após discussões com enviados dos EUA, mas, nesse caso, a possível não presença de Jair Bolsonaro estaria mais relacionada com seu bom relacionamento com o antecessor de Biden, Trump. Esse será o primeiro encontro pessoal entre Biden e Bolsonaro e espera-se que, ao final do evento, os dois presidentes tenham uma reunião bilateral.

 

Todo esse esvaziamento do evento é bastante negativo para a imagem e diplomacia do governo de Joe Biden. Sem contar que temas prioritários para o governo norte americano, como o pico da migração, não poderão ser tratados de forma efetiva sem a participação de todos os representantes norte e sul-americanos.

 

Com isso, não dá para negar que há um burburinho na Cúpula deste ano, sinalizando para a perda de influência dos Estados Unidos frente a China. Lembrando que, até a década de 1990, a potência americana era o principal parceiro comercial de praticamente todos os países do continente, mas já no início dos anos 2000 ela começou a ser substituída pela China. 

 

E como fica o Brasil na IX Cúpula das Américas?

 

A imagem internacional do governo Bolsonaro não é muito positiva. O presidente brasileiro é acusado de facilitar a degradação da Amazônia e a violência contra seus defensores. Melhorar essa imagem será uma tarefa complexa, principalmente com o desaparecimento, na véspera da abertura do evento, do jornalista britânico Dom Phillips e de um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Araújo Pereira, na Amazônia, em meio a tensões sobre a invasões e os usos de terras indígenas. Com isso é fácil lembrar dos assassinatos do líder seringueiro Chico Mendes (1988) e da missionária Dorothy Stang (2005) nas disputas pela proteção ou exploração do território amazônico. 

 

A importância da IX Cúpula da Américas

 

Para o evento deste ano, os EUA decidiram selecionar cinco pilares centrais: "Saúde e Resiliência nas Américas", "Futuro Verde", "Aceleração da Transição para Energia Limpa", "Transformação Digital" e "Governança Democrática". Com isso, a IX Cúpula deverá discutir sobre temas desde democracia e meio ambiente até crime organizado e instabilidade econômica. 

 

E, com as vulnerabilidades do contexto atual, a Cúpula, apesar de tudo, ainda pode ser uma ferramenta central para inspirar a cooperação na região. A tão aguardada recuperação econômica pós-pandemia ainda é incerta, mesmo com a alta dos preços das commodities, por causa da alta na inflação, que tem corroído a renda das famílias. Assim, os acordos comerciais e de apoio econômico que venham a surgir com o evento são muito bem-vindos. Apesar disso, há um ceticismo geral nos países da América Latina sobre o interesse dos EUA na cooperação econômica, o que pode dificultar as realizações do evento.

 

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Até a próxima!

 

 

 

 

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