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Destaques das últimas presidências na Argentina

Destaques das últimas presidências na Argentina

Conteúdo postado em 09/03/2022

Olá, sapientes!

 

Conhecer a política e história argentina é uma parte significativa da preparação para o CACD. E como essa não é uma tarefa fácil, o Blog Sapi resolveu fazer um apanhado dos pontos mais relevantes das presidências argentinas das últimas décadas. 

 

Governo Carlos Menem (1989 - 1999)

O foco prioritário da Política Exterior Argentina (PEA) na década de 1990 foi os Estados Unidos, ficando o Brasil como parceiro secundário. Um símbolo disso foi o Mercosul estar em segundo plano, enquanto a Alca era a ideia preferencial de integração para os argentinos. Isso fazia sentido, visto que foi nessa década que foi evidenciada a crise dos socialismos reais e a ascensão dos EUA como grande potência global.

 

Nesses anos, o Realismo Periférico de Carlos Escudé também foi o que ditou a PEA. Em outras palavras, e como consequência da guerra das Malvinas, a Argentina passou a defender que é melhor evitar conflitos com países  mais fortes, acreditando que a melhor maneira de proteger o interesse nacional seria não confrontar quem determina as regras. A função da PEA seria, assim, reduzir riscos e custos

 

O chanceler de Menem, Guido Di Tella, foi um grande defensor da aproximação com os EUA e a OTAN. Na gestão dele, a Argentina ganhou o status de "aliado extra-Otan" (1997), tentou negociar com o Reino Unido sobre a questão das Malvinas, participou de diversas missões de paz da ONU e acompanhou os votos dos EUA em foros multilaterais. Além disso, o país alterou sua política nuclear, ratificou o Tratado de Tlatelolco em 1994 e aderiu ao TNP em 1995.

 

Naquele momento, a Argentina começava a reestruturar a economia após a crise da década perdida. Consequentemente, a agenda comercial era central para as decisões da PEA. Para favorecer as trocas comerciais e com o objetivo de atrair investimentos, o ministro da Economia Domingo Cavallo promoveu a lei de convertibilidade, também conhecida como Plano Cavallo, estabelecendo a paridade entre o peso e o dólar. Essa lei, que durou de 1992 até 2002, gerou algumas complicações para a economia do país. Já em 1999, quando o presidente brasileiro FHC liberalizou o câmbio e desvalorizou o real em resposta à crise dos tigres asiáticos, produtos brasileiros inundaram o mercado argentino e pioraram a situação no nosso vizinho,  que não tinha como usar a política monetária como instrumento econômico.

 

Transição para os anos 2000

A instabilidade política foi um desafio para a Argentina nos primeiros anos do novo milênio. Em um intervalo de 10 dias, o país teve cinco presidentes: de la Rúa, Ramón Puerta, Adolfo Rodríguez Saá, Eduardo Camaño e E. Duhalde. Não há quem negue que as instabilidades internas fizeram a Argentina se ausentar das questões internacionais nesse período.

 

Em contrapartida, o Brasil inaugurou, naquele ano, uma política externa mais voltada para os vizinhos sul-americanos em substituição ao latinoamericanismo anterior. Isso devido à entrada do México no Nafta, já que não fazia sentido para o Brasil buscar uma relação com a América Latina em geral sem incluir o México. A Argentina, por outro lado, dava sinais de preocupação com a possibilidade do Brasil despontar como uma liderança regional, e continuou, assim, defendendo uma politica latinoamericanista.

 

Fernando de la Rúa (1999 - 2001)

Governo marcado pela continuidade, com o foco das relações ainda sendo com os EUA. 

 

Foi nesse governo que a crise dos tigres asiáticos chegou à Buenos Aires com toda força. Já havia sinais de instabilidade econômica em 1998, mas a desvalorização de 100% do valor do real em 1999 agravou a situação no nosso vizinho.

 

Não podemos deixar de lembrar que a decisão brasileira de liberalizar o câmbio também gerou um forte desgaste na agenda do Mercosul. O plano de convertibilidade argentino dependia de um câmbio estável dos parceiros para manter a paridade dólar-peso, então, os argentinos começaram a denunciar uma “Brasil dependência”. A insatisfação crescente levou a manifestações populares violentas e, consequentemente, à renúncia de de la Rúa.

 

No espírito de integrar, até aquele momento, o Brasil havia mantido déficits comerciais com a Argentina. No entanto, após o alto superávit brasileiro de 1999, em 2000 o comércio entre os dois caiu bruscamente. Como resposta, até 2001 o Brasil se ausentou do Mercosul para evitar maiores tensões com a Argentina.

 

Onda Rosa 

Com a retomada da estabilidade política de Buenos Aires, inaugura-se um período de governos de centro esquerda despontando em quase todos os países da América Latina. Foi também o momento de fortalecimento do regionalismo aberto, onde as relações regionais e o Mercosul ganharam importância. O objetivo das políticas agora era marcado pelo desenvolvimentismo e pela busca de melhorias nas questões sociais.

 

Néstor kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015)

Esses dois governos são mais à esquerda e criticam a atuação dos EUA, fomentando uma PEA mais autonomista. Defendem a ideia de “dupla dependência” com o Brasil em substituição às críticas da “Brasil dependência”. 

 

A Argentina dos Kirchner experimenta uma melhoria na economia devido ao boom das commodities, um momento de alta histórica dos preços por causa da demanda chinesa. O resultado disso foi o Brasil e a China assumirem como novos focos centrais das relações argentinas e fortalecimento da cooperação entre os três países.

 

Néstor Kirchner (2003-2007)

Em 2003, Lula e Néstor Kirchner fundaram o “Consenso de Buenos Aires” em oposição à liberalização defendida pelo “Consenso de Washington”. O conceito brasileiro-argenino apontava o Estado como ator responsável pela melhora na qualidade de vida da população por meio do desenvolvimento em oposição à diminuição da interferência estatal preconizada pelo outro conceito.

 

Apesar da maior cooperação política, houve também entraves com o Brasil, principalmente porque os brasileiros se beneficiavam de superávits, enquanto o governo argentino respondia com mecanismos defensivos e de comércio administrado.

 

Cristina Fernández de Kirchner (2007 - 2011)

A marca desse governo foi a continuidade. Em 2011, os preços das commodities voltaram a cair e a situação econômica ficou menos confortável. Aumentou, assim, a percepção de que o Brasil era um parceiro essencial para a economia argentina.

 

Essa parceria já era entendida como proprietária, como mostram as dez visitas presidenciais bilaterais entre 2007 e 2010, além da cooperação no campo da segurança internacional. O Brasil comandou a MINUSTAH e a Argentina ofereceu apoio.

 

Mesmo assim, entraves entre os dois países não deixaram de ocorrer. Um exemplo disso foi a recusa brasileira de compartilhar tecnologia nacional de enriquecimento de urânio.

 

2° Gov Cristina Kirchner (2011-2015)

As relações com o Brasil deterioraram-se e a China assumiu o lugar de parceiro preferencial. Isso foi uma consequência direta do fim do boom das commodities em 2011 e da crise econômica e política que o Brasil vivenciava entre 2013 e 2017.

 

Maurício Macri (2015-2019)

A importância do Brasil é retomada, uma vez que agora é visto como uma alternativa à dependência em relação à China.

 

O governo macri defende o "gradualismo", uma política gradualmente ortodoxa para evitar a desaceleração da economia. No entanto, o resultado foi a perda de poupança externa, já que a confiança do mercado diminuiu muito rapidamente em resposta à falta de reformas econômicas essenciais, além da intensificação dos problemas estruturais.

 

Macri apoia o governo Guaidó e o pleito contra Maduro no TPI

 

É por isso mesmo que o governo Macri mostra interesse no Brasil e constrói uma excelente relação com Bolsonaro, ao ponto de o presidente brasileiro quebrar a tradição de neutralidade e apoiar abertamente a  reeleição de Macri. 

 

As prioridades desses dois governos são convergentes e um exemplo disso é a retomada das negociações do acordo Mercosul-União Europeia, que vinham sendo bloqueadas pela Argentina na administração Kirchner, sem falar na assinatura de diversos acordos sobre investimentos, compras governamentais e facilitação do comércio.

 

Alberto Fernández (2019 - atualidade)

Com a pandemia, o Brasil perdeu, de novo, espaço de principal parceiro comercial da Argentina para a China, mas esse é só um de vários entraves entre os dois países no início do governo Fernández. Só o fato de Fernández fazer um governo mais à esquerda e da vice-presidente Cristina Kirchner não apoiar a aproximação do Mercosul com a UE e a EFTA já é preocupante para o governo brasileiro.  

 

Alguns destaques relevantes desse governo são o fato de o presidente argentino reverter o reconhecimento ao governo de Guaidó e retirar a Argentina do Grupo de Lima, além de anular o apoio ao processo contra Maduro no TPI.

 

Sobrou para Fernández a tarefa de renegociar a dívida de Buenos Aires em dólares, uma consequência do  gradualismo de Macri. Ainda assim, elevou o valor do salário mínimo e promoveu forte campanha de vacinação, na tentativa de elevar o consumo e melhorar a situação econômica.

 

Outro ponto relevante desse governo foi a adesão argentina à Iniciativa Cinturão e Rota de investimentos chineses. Os dois já anunciaram planos para a construção de uma usina nuclear na Argentina como parte da cooperação da China.

 

Nos primeiros meses de 2022, o país tem demonstrado uma certa recuperação do PIB. Ainda assim, a inflação no país continua elevada e há previsões de que aumente ainda mais ao longo deste ano.

 

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Bons estudos!

 

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