Política Internacional
Doutrina Primakov: conheça a estratégia russa de inserção internacional
Conteúdo postado em 10/02/2025
O estudo de política internacional no CACD vai muito além das relações bilaterais entre o Brasil e outras nações. O edital exige conhecimento da política externa de atores-chave, como Rússia, China e Estados Unidos, abordando suas estratégias, movimentos diplomáticos e como influenciam a ordem global.
Conhecer a Doutrina Primakov, peça central da política externa russa desde os anos 1990, torna-se premente para compreender a inserção internacional russa e seu modus operandi considerando o cenário atual de tensão geopolítica.
No contexto das últimas provas de política internacional do CACD, além dos temas tradicionais sobre política externa brasileira, questões sobre a atuação de grandes potências têm aparecido. Isso reforça a importância de estudar a política russa, especialmente em tempos de conflito e disputa por poder global.
Neste artigo, vamos explorar a Doutrina Primakov, sua origem, aplicação e relevância, destacando sua importância para compreender a política externa russa.
O que é a Doutrina Primakov?
A Doutrina Primakov é a principal estratégia russa de inserção internacional desde os anos 1990, desenvolvida por Yevgeny Primakov, ex-ministro das Relações Exteriores e ex-primeiro-ministro da Rússia. Seu objetivo principal era conter o domínio unipolar dos Estados Unidos, promovendo um mundo multipolar no qual a Rússia tivesse um papel de destaque.
A doutrina surgiu em resposta ao cenário internacional pós-queda da União Soviética, quando os Estados Unidos emergiram como a única superpotência mundial. Para Primakov, esse sistema unipolar era inaceitável para o orgulho nacional e para a segurança da Rússia. Assim, ele propôs uma política externa que garantisse a independência russa e fortalecesse alianças estratégicas, especialmente com a China e a Índia, criando um contrapeso à influência americana.
A transição da Política Russa: de Yeltsin a Primakov
Antes de Primakov, a política externa russa era marcada por uma tentativa de aproximação com o Ocidente, liderada pelo então presidente Boris Yeltsin. Essa estratégia buscava integrar a Rússia às instituições ocidentais e adotar uma postura conciliatória com os Estados Unidos. No entanto, as desconfianças mútuas e o aumento das tensões geopolíticas levaram ao fracasso dessa abordagem.
Ao assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores em 1996 e, posteriormente, de primeiro-ministro em 1998, Yevgeny Primakov reverteu essa política de acomodação. Ele implementou uma nova estratégia de inserção internacional, centrada na formação de alianças alternativas e na rejeição da expansão da OTAN para países do Leste Europeu e ex-repúblicas soviéticas, que a Rússia considerava sua zona de influência natural.
A estrutura da Doutrina Primakov
A Doutrina Primakov é sustentada por três pilares principais:
1. Multipolaridade Internacional: Rejeição ao sistema unipolar liderado pelos Estados Unidos e busca por um mundo multipolar, no qual a Rússia desempenhe papel central.
2. Alianças Estratégicas com Potências Emergentes: Fortalecimento das relações com China e Índia, criando um eixo alternativo de poder. Essa estratégia inspirou posteriormente a formação do bloco dos BRICS.
3. Resistência à Expansão da OTAN: Defesa das fronteiras de influência russa e oposição à integração de países do Leste Europeu à OTAN, considerada uma ameaça direta à segurança nacional.
O papel da Doutrina Primakov na Política Internacional atual
A Doutrina Primakov não é apenas um conceito histórico. Ela continua a influenciar a política externa russa. O atual ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, frequentemente cita a doutrina como uma referência essencial para a formulação da política internacional russa contemporânea. A aproximação da Rússia com países asiáticos, a criação de novas organizações multilaterais e a oposição constante às políticas ocidentais refletem os princípios estabelecidos por Primakov.
Exemplos de aplicação atual
1. Organização para a Cooperação de Xangai (OCX): Criada em 2001, a OCX promove cooperação em segurança e comércio entre Rússia, China e outros países asiáticos, reforçando a estratégia multipolar de Primakov.
2. Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC): Um pacto militar liderado pela Rússia que busca ser uma alternativa à OTAN para os países da Ásia Central.
3. Relações com a China: A parceria estratégica com a China, especialmente no contexto energético e tecnológico, é uma continuidade direta da Doutrina Primakov, criando um eixo de poder alternativo ao Ocidente.
O contexto geopolítico atual: relevância no cenário de guerra
Com a guerra na Ucrânia e a crescente rivalidade entre Rússia e Ocidente, a Doutrina Primakov volta a ser debatida com mais intensidade. A rejeição ao avanço da OTAN e a busca por aliados estratégicos reforçam a atual postura russa. Embora os tempos sejam outros, os princípios de Primakov continuam a permitir a compreensão das ações diplomáticas e militares da Rússia, evidenciando a importância de entender essa doutrina para quem deseja compreender as dinâmicas geopolíticas atuais.
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Doutrina Primakov e o CACD: por que você deve estudar esse tema?
Questões sobre a política russa têm aparecido nas últimas provas, exigindo do candidato uma compreensão aprofundada das estratégias internacionais de grandes potências.
Dicas para o CACD:
- Relacione a Doutrina Primakov com o conceito de multipolaridade e o contexto pós-Guerra Fria.
- Analise o papel da Rússia nas organizações multilaterais.
- Esteja atento à atual política externa russa e seus desdobramentos no cenário global.
- Estude a Doutrina Primakov em conjunto com a política externa de China e Estados Unidos, pois esses temas se complementam e oferecem uma visão ampla do sistema internacional atual. Afinal, para quem sonha em seguir a carreira diplomática, entender a história e a estratégia das grandes potências é indispensável.
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