A carreira diplomática é frequentemente associada a eventos de gala, negociações de alto nível e viagens internacionais.
No entanto, por trás dos bastidores, a verdade é que a carreira diplomática é construída sobre experiências humanas profundas, desafios práticos e aprendizados que extrapolam as páginas dos livros.
Neste artigo, reunimos relatos, entrevistas e memórias de grandes nomes da diplomacia brasileira, como os embaixadores Rubens Ricupero, Fernando de Mello Barreto e o ex-ministro Celso Lafer, para entender, por dentro, o que significa representar o Brasil em campo — com toda a complexidade, sensibilidade e responsabilidade que essa missão exige.
A diplomacia vivida: além da teoria
"Há coisas que você só aprende quando está lá, em campo. Quando o documento que você redigiu precisa ser traduzido em ação, em entendimento mútuo, em solução prática", afirma o embaixador Rubens Ricupero em sua entrevista à Sapi TV.
Ao rememorar passagens marcantes de sua trajetória — como seu tempo como representante brasileiro na ONU ou sua atuação como secretário-geral da UNCTAD — Ricupero destaca que o verdadeiro aprendizado diplomático ocorre nos bastidores: nos corredores das conferências, nos jantares informais com autoridades estrangeiras, nas negociações que se estendem madrugada adentro.
Na mesma linha, o ex-ministro Celso Lafer relata episódios em que sua formação acadêmica, embora sólida, precisou ser adaptada às sutilezas da política internacional. Ele ressalta, por exemplo, como a escuta ativa e a construção de confiança foram cruciais em momentos de impasse com representantes de outros países. Lafer também relembra sua participação em discussões sobre propriedade intelectual e comércio, áreas em que o Brasil buscava ampliar sua voz e garantir mais justiça nos fóruns multilaterais. Você pode assistir à entrevista aqui.
A negociação como arte e escudo
"Negociar não é vencer. É encontrar uma zona de conforto comum para ambas as partes", define Fernando de Mello Barreto, embaixador do Brasil na Costa Rica, em entrevista para o Sapi TV. Em sua fala, ele descreve o trabalho diplomático como uma arte — muitas vezes silenciosa — de tecer consensos, alinhar interesses divergentes e, sobretudo, preservar a imagem e os valores do Brasil.
Barreto compartilha um caso em que precisou mediar uma situação de conflito político entre autoridades locais e a comunidade brasileira residente. Em um contexto de tensão, seu papel foi, antes de tudo, ouvir, mapear os interesses envolvidos e agir com discrição. "A diplomacia exige autocontrole. É preciso manter o equilíbrio mesmo quando tudo ao redor parece estar em turbulência", afirma.
O cotidiano de quem representa o Brasil no mundo
Nos três relatos analisados, um ponto em comum salta aos olhos: a multiplicidade de tarefas que um diplomata exerce. Longe de se limitar a negociações de alto nível, a rotina envolve desde a organização de eventos culturais à resolução de questões consulares, como o apoio a brasileiros em situação de emergência no exterior.
Rubens Ricupero lembra, por exemplo, de quando precisou intervir diretamente para garantir o retorno de cidadãos brasileiros que estavam retidos em meio a um conflito. "É nesses momentos que você compreende o peso da função. Você é o Brasil para aquelas pessoas", diz ele. E complementa: "Não se trata de glória, mas de responsabilidade".
Celso Lafer, por sua vez, destaca a importância do trabalho em equipe e da liderança institucional. Ele reforça que a imagem do diplomata isolado, resolvendo tudo sozinho, é um mito. "A diplomacia se faz em rede. Uma embaixada funciona com uma equipe, com coordenação. E cada voz tem um papel na construção de uma política externa consistente."
Os aprendizados que a prática ensina
Entre os muitos ensinamentos que os diplomatas veteranos compartilham, há algo que chama atenção: o quanto a vivência em campo molda a percepção do Brasil e do mundo. Ricupero, por exemplo, confessa que suas missões mudaram a forma como ele vê o próprio país. "Você passa a ter uma visão mais crítica e, ao mesmo tempo, mais generosa. Entende melhor os desafios do desenvolvimento e o papel estratégico que o Brasil pode exercer, com prudência e criatividade."
Já Fernando de Mello Barreto sublinha o impacto das diferentes culturas e sistemas políticos no modo de atuação do diplomata. "O que funciona em um país pode ser desastroso em outro. É preciso flexibilidade, sensibilidade cultural e, muitas vezes, humildade para reaprender o tempo todo."
O diplomata como ponte
Talvez a imagem mais poderosa que emerge desses relatos seja a do diplomata como ponte: entre países, entre culturas, entre governos e sociedades. Uma ponte que nem sempre é visível, mas que é essencial para manter canais de diálogo abertos, para construir acordos duradouros e para assegurar que os interesses brasileiros sejam defendidos com firmeza e respeito.
Celso Lafer conclui seu relato com uma frase que sintetiza essa missão: "Ser diplomata é, acima de tudo, servir. E isso exige preparo técnico, sim, mas também senso ético, empatia e resiliência."
A diplomacia brasileira, construída por profissionais como Ricupero, Lafer e Barreto, é um testemunho vivo da importância do serviço público internacional como instrumento de paz, cooperação e desenvolvimento. As histórias reunidas neste artigo revelam que ser diplomata é muito mais do que falar vários idiomas ou decorar tratados internacionais. É estar disposto a viver o mundo, a lidar com o inesperado, a representar com dignidade — e, principalmente, a aprender o tempo todo.
Se você quer conhecer mais sobre essa trajetória, vale assistir aos relatos completos nos vídeos disponíveis em nosso canal do YouTube. E, claro, siga acompanhando o blog do Sapientia para mais conteúdos sobre o universo da diplomacia, os bastidores do CACD e as histórias reais de quem vive essa missão por dentro.
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