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Sugestão de leitura para o CACD: A Bagaceira

Sugestão de leitura para o CACD: A Bagaceira

Conteúdo postado em 27/03/2020

Olá, futuros diplomatas!

 

“A Bagaceira” é publicada em 1928 pelo escritor paraibano José Américo de Almeida provocando tamanha revolução na literatura brasileira do período que pode ser considerada a obra inaugural da segunda geração modernista, a Geração de 30. Daí não dá para deixar de entender a importância desse romance, né?

 

A obra descreve a realidade de um grupo de retirantes, fugidos da seca de 1898, que se decidem deixar o sertão para trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. Ao longo de todo o enredo, o autor destaca as diferenças culturais entre o Sertão paraibanos e o Brejo produtor de açúcar, porção mais próxima do litoral. Conflitos constantes são retratados entre os trabalhadores naturais do ambiente do engenho e os recém-chegados retirantes, devido às diferenças na moral e na cultura dos dois grupos. 

 

Em meio a esses contrastes, José Américo deixa claro os sinais de um processo de modernização que é desigual e excludente do nordeste, além de ser permeado pelos abusos sociais e políticos dos senhores de engenho e coronéis, já cristalizados naquela sociedade envolvida pela questão da seca. 

 

Muitos aspectos de “A bagaceira” foram valorizados pelos modernistas de sua época, como é o caso da linguagem popular apresentada na obra, que foi um fator que influenciou a expressividade de diversas obras da literatura brasileira. O autor empregou tantas expressões regionais, como forma de construir a identidade dos personagens, que foi preciso um glossário para facilitar a compreensão dos leitores de outras regiões do país.

 

O fato é que José Américo deu início a uma nova tendência da narrativa ficcional que pode ser interpretada como uma renovação ou combinação de dois períodos da nossa literatura, o regionalismo romântico e o realismo do século XIX. Diferentemente da geração regionalista do romantismo, ele abandona a idealização e tanto o sertanejo quanto sua condição é descrita de forma mais fiel à realidade. E, por esse motivo, o romance regionalista da segunda fase do Modernismo pode ser chamado também de neorrealista.

 

O sucesso de “A Bagaceira” esteve em apresentar uma realidade social ainda desconhecida nacionalmente. O fato de a seca ser usada como uma ferramenta para subjugar a população sertaneja e submetê-la a relações de poder abusivas não era tão claro fora dos espaços onde isso ocorria (ou ocorre). Sem perder de vista que José Américo conseguiu transmitir com seu romance a realidade da modernização que o país todo vinha experimentando e que não era capaz de modificar essas relações de poder. Basta uma citação do livro para a gente perceber isso:

 

“Há uma miséria maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na terra de Canaã.”

José Américo de Almeida, em A bagaceira.

 

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